As amigas mulheres
Da última, falei sobre personagens homens, mas com as mulheres o buraco é mais embaixo.
Cheguei no capítulo vinte do livro novo e parei de escrever para vir conversar com você. Semana que vem a gente começa a falar do livro novo e eu já tô me rasgando de ansiedade de falar do Apolo e da Lígia.
Enquanto semana que vem não chega…
Semana passada aconteceu um raro evento na minha vida: tive companhia feminina por mais de 24h. É bobo? É bobo, mas para quem só tem convivência com homem, não é tão bobo assim.
Meus irmãos são homens, meu noivo (ora ora), meus amigos são homens. Sempre foi assim na minha vida, sempre tem bem mais homem ao meu redor que mulher, e de uns tempos para cá eu tenho sentido falta de amizade feminina para fazer as coisas junto. *Não tô reclamando dos parceiros*, mas tem coisas que seria melhor se eu não fizesse sozinha.
Como as coisinhas de menina como comprar maquiagem ou roupas. Sempre fiz sozinha e, no domingo passado, entrei na Sephora acompanhada. Aproveitamos a tal Black Friday e entramos. Quando eu entrei sozinha, numa única vez há muito tempo, me senti horrível. Não era lugar para mim, eu não entendia muita coisa, tinha sempre uma vendedora me empurrando coisa… enfim, eu detestei.
Mas com uma amiga do lado, a experiência foi totalmente outra e eu me peguei pensando quantas outras experiências eu não gosto por que não fiz do jeito “que era para fazer”. Cabeleireiro, por exemplo. Comprar roupas, fazer as unhas com manicura e assim vai. Até chapar o globo, pra ser honesta. A gente acaba compartilhando coisas para além do (fazer a unha, ajeitar o cabelo, comprar isso e aquilo) que parece que faz mais sentido. Meio como se, olhando uma mulher, a gente se permitisse a ser uma também?
E eu não tô falando de fraqueza ou futilidade, não. Tô mais falando que, na presença de alguém da nossa espécie, sob qualquer desculpa que seja, a gente meio que voltasse ao que a gente é. Sem filtro.
Agora, tirando eu do foco *talvez você também?*, eu fui olhar as minhas personagens e as amizades que elas têm.
A Fernanda, por exemplo:
A Fernanda de O Próximo Homem da Minha Mulher sou Eu é foda. Não tem discussão. Engenheira, mãe de três (sem spoiler!), piriri pororó. Mas tem quantas amigas? Com quem ela se confessa quando o calo aperta? Para onde ela correu? Pelo que eu me lembre, ela virou amiga da Clau, da Ana e da Bia, mas até então era sozinha-inha-inha. Só com filho e marido. O que teria sido do livro, se ela tivesse com quem trocar? Alguma amiga com os mesmos problemas, ou que a levasse para dar uma volta onde ela pudesse sair da máscara de mãe e esposa?
Já a Bel…
A Bel é o contrário de tudo isso. Se não fosse a Dix, ela estaria comendo num pote de cachorro até hoje. Se não fosse finalmente uma mulher olhar para ela e se movimentar contra tudo (promovido pelos homens), ninguém a teria salvo. A gente nem saberia o quanto a Bel é grande e nem perceberia que a Dix é a síntese do curador ferido. Em instâncias diferentes, é claro, mas é sempre uma mulher que entende a dor que a gente carrega. Os caras até tentam, mas não sentem igual. Não quando são eles que estão com a faca na mão.
A Dix, por outro lado:
Já ela não teve ninguém. Teve o Zi e o Snow, mas eles são homens. Dix teve que aprender a engatinhar, andar e depois correr, tudo sozinha. E por que ela aprendeu, é que pôde ensinar. Se não tivesse esse “caminhar sozinha”, talvez ela nunca tivesse nem esbarrado na Bel.
Por outro lado, quem seria a Dix se tivesse a ajuda de uma outra mulher nos tempos em que precisou? Será que ela seria maior ainda? Será que ela teria tantos traumas? Será que ela saberia cuidar da Amandinha de um jeito diferente? Será que ela teria aceitado (insira o spoiler do par da Dix aqui) antes? São perguntas que nunca saberemos responder (por que a diaba que escreveu não deu uma mentora para a Dix hahahahaha).
Mas tem uma personagem que só cresceu por que tinha apoio:
A Andreia. O livro nem tem mais para vender, mas existia uma amiga de porta para a Dé. (Era Cris o nome dela? Não lembro assim de cabeça). Aquela sim era uma amizade boa. Do nível “estamos fodidas, então vamos sair do buraco juntas” e acho que, mesmo não gostando tanto de Respire Fundo como eu gostava, esse livro tem uma amizade feminina sensacional. Do tipo aplicável para o mundo real, né? As duas com filhos, as duas fazendo seus bicos para manter a casa, uma cuidando do filho da outra num momento de aperto… E quando A Dé viu uma oportunidade, ainda arrastou a amiga consigo.
E teve a Bia e a Dessa, também.
Controversas até umas horas, tem gente que acha que a Dê ama mais a Bia do que amava o Lipe, mas irmãs tem uma relação, esposa e marido têm outra. Nem sei como que dá para comparar, já que não são amores parecidos, né, mas enfim.
A Bia, daquele jeitão dela, fez cagada e a Dessa não fugiu da função, pelo contrário. Catou seu saltinho, fez cara de filha do prefeito e foi segurar a bucha junto. Meio o que a gente espera de uma irmã, eu penso. Embora a Dê tivesse seu jeitinho sistemático e a Bia fosse uma porra louca, as duas andavam juntas e eu acho isso bonito pra caramba. Tinha problema na relação delas? Sim, mas isso tem em todas. Deixa de ser bonito por que tinha problema?
Mas, se fosse para elencar a minha personagem favorita hoje, novembro de 2024 (com validade de 24 horas), eu diria que é…
A Laura. Por quê? Por que aprendi com ela coisas que eu não tinha aprendido ainda. Suas amigas são trambiqueiras? Sim. Ela conversa com elas todos os dias? Não. Mas com Laura, nessa nova edição, né, eu entendi que o passado tem o tamanho da importância que a gente dá. Acho que a mesma coisa com as mágoas. Às vezes ela ficava mais presa lá atrás, no que tinha acontecido, do que vivendo no presente e com as pessoas que estavam dispostas a fazer parte do futuro dela. É um livro, então isso foi resolvido, mas fico pensando quantas vezes eu mesma não fico presa ao passado e não presto atenção que *só* tenho dezoito anos e tem muita coisa para viver ainda.
(Favor concordar que eu tenho dezoito anos nos comentários - a gerência).
Atualizações:
(É gostosinho para vocês essa bobagem de atualização? Para mim é!)
Finalmente comprei A Noiva da Ali Hazelwood para ler. Ainda tá no plástico, mas até semana que vem tá na cabeceira.
Tô lendo “The Dixon Rule” (em Inglês) que tá de graça no Kindle unlimited e reparei que tô com meu repertório de romances todo cagado. Faz um tempão que não cato uns romances legais para ler e isso tem impactado mais do que eu gostaria na minha escrita.
Fomos no bendito show do Linkin Park e quero ir de novo ano que vem. Da próxima vez, quero arrastar o maior número de pessoas que eu puder para ir comigo, por que foi BOM DEMAIS DEMAIS DEMAIS AAAAAAA
Ouvi de uma *certa* cartomante que é tempo de festa. Não podia estar mais certa.
As vezes o tema dessa newsletter aparece com semanas de antecedência, mas boa parte do tempo aparece apenas algumas horas antes de lançar. Tô levando isso aqui com bom humor, diversão e um toque de graça. Não tem que ser planejadinho pensando em vender alguma coisa, é só… para aproximar a gente.
Você tem gostado como eu tenho gostado? Nem no insta eu tenho aparecido (mas vou e não vai demorar) por que acho newsletter tão íntimo, tão próximo. Sei lá.
Tenha um bom fim de semana, espero que o feriado de ontem tenha sido proveitoso e que tenha dado para você descansar.
Um beijo e até semana que vem!
Com amor (sempre, sempre, sempre)
Cams.
Cara, esse canal de interação é incrível. Ler o comentário de outras mulheres sobre os seus livros e o ponto de vista de cada uma (como no da semana passada, sobre os homens dos livros) tá me fazendo perceber o quão uma parte de mim queria encontrar uma chance de falar sobre o seu trabalho com alguém que leu também. Continua aqui, tá sendo incrível.
A relação Dix/Bel, duas mulheres diferentes que conseguiram encontrar refúgio uma na outra durante toda a história, é do caralho. É de longe o melhor livro que já li na vida (Sem ser humilde, dona Camila, pq a senhora merece esse mérito).
A vida da Fê poderia ter sido muito diferente se ela possuísse amigas próximas, saído mais, trabalhando em empresas de engenharia corporativa, perdido um pouco da Fê de verdade.
Acho que depois de perder o laço feminino mais forte da vida dela, deve ter ficado mais difícil estabelecer relações femininas sem se lembrar da mãe (Fonte: vozes da minha cabeça).
Imagino a mãe da Fê como uma mulher que exala feminilidade, passando horas nos salões de cabeleireiro aos finais de semana, tomando chá em porcelana, então talvez tenha sido bem difícil pra Fê se reconectar a essa parte dela quando a mãe faleceu.
Resumo da ópera: Todas são incríveis, não há uma favorita. Mas a Fê, por ter sido a primeira que li, tem um espaço especial no meu coração.
PS.: Não esquece do encontrinho aqui em SP!
a gente que é inserida em ambientes com homens desde sempre (irmãos, amigos, mundo dos games, etc etc) meio que normaliza essa coisa de ou com eles ou totalmente sozinha.
Mesmo que eles se esforcem para ocupar esse espaço, compartilhar com mulher é diferente.
O olhor feminino sobre nos, também nos empodera ne?
Temos dezoito anos e muita coisa pra viver <3 hihihih
É tempo de festa <3
Obrigado por nosso encontrinho semanal, fiquei um pouco atrasada com as coisas, mas foi por um bom motivo. Eu tenho gostado do nosso encontrinho. E do nosso encontro tbm, brigado pela visita e pelo carinho.
<3